Serenidade, sabedoria e clareza teórica.
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”. (Boaventura de Souza Santos)
Os professores da rede municipal de Passo Fundo lutam por reconhecimento, dignidade, melhores condições de trabalho e por uma escola pública e de qualidade social. Nesta perspectiva, recentemente, ousaram propor a transformação de seu CMP (Centro Municipal de Professores) numa ferramenta sindical de luta e organização por seus direitos. Até então, este Centro servia, prioritariamente, para finalidades focadas no desenvolvimento cultural e na integração dos professores. Os professores e professoras desejam agora um CMP Sindicato; não se sentem representados pelo Sindicato dos Servidores Municipais porque suas demandas e necessidades são específicas e seus pleitos, quando misturados aos das demais categorias de servidores perdem foco e são diluídas nas proposições e conquistas.
Neste momento de importante definição, os professores devem aliar a serenidade dos sábios com a firmeza e clareza dos seus conselheiros (autores) clássicos. A serenidade dos sábios enseja pensar que esta ousada proposição de transformar seu Centro em Sindicato não será facilitada por ninguém, até porque, envolvendo outros sujeitos, mexe com múltiplos interesses. Significa reconhecer que poderá não ser uma decisão unânime. Significa reconhecer que alguns poderão titubear porque lhes falta coragem ou, simplesmente, convicção. Neste caso, a serenidade sugere continuarmos afirmando o CMP como ferramenta de luta e de união dos professores transformando-o em Sindicato, fortalecendo a identidade e afirmando as diferenças que, neste caso, são fundamentais porque justamente são elas que nos descaracterizam.
O grande mestre educação brasileira Paulo Freire assim descreveu a luta dos professores: “Luta dos professores em defesa dos direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte”. Paulo Freire entendia que a atividade docente deve ser uma prática libertadora, levando os indivíduos a entenderem sua posição no mundo e, a partir daí, seu papel na sociedade. Por força de suas palavras e seu testemunho, Freire é um grande mestre inspirador de nossas lutas.
Somos, cada um e cada uma, semelhantes a um pote de luz, seres cheios de potencialidades. Sozinhos e isolados, no entanto, não formamos identidade e nem somos fortes para imprimir dignidade, respeito e orgulho de nossa profissão.
Para fortalecermos nossa identidade e as lutas do magistério precisamos de um Sindicato forte e identificado com a gente! Precisamos de um Sindicato que se torne referência nos importantes debates da educação em Passo Fundo. Nossa cidade tem história na educação, mas não conta ainda com protagonismos políticos, pedagógicos e organizativos que representem os mais de 1300 professores da rede municipal. Nossa educação municipal precisa ser afirmada e praticada como prioridade das políticas públicas para ser reconhecida “educação pública de qualidade social”, disponibilizada ao conjunto de nossa população.
Os professores e professoras, protagonistas desta decisão, sabem que a educação tem um grande poder, mas não é, em si mesma, o poder transformador. Nem sozinha, nem isolada. “A educação não transforma o mundo. A educação transforma as pessoas e as pessoas é que transformam o mundo”.
Neste momento, em especial, não promovemos divisão de forças. Estamos afirmando nossas diferenças, porque a igualdade nos descaracteriza frente aos demais. Não somos egoístas e não fazemos apologia da divisão de classes e categorias de servidores. Estamos afirmando nossa identidade e construindo uma ferramenta de luta que alavanque nossas forças para que não sejamos eternamente sub-representados e desvalorizados em nossas demandas específicas. Já provamos a nós mesmos que podemos lutar a partir dos nossos interesses e dos nossos ideais, sem perder de vista o conjunto do funcionalismo municipal! Ao mesmo tempo, quando exigidos, saberemos nos unir às diferentes categorias do funcionalismo público municipal, afirmando a igualdade, quando a diferença nos inferiorizar. Queremos, e devemos, sob estes pontos de vista, fazer história na comunidade passo-fundense.
Já agimos como Sindicato, mas ainda não somos Sindicato formalmente. CMP Sindicato Já!
Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.
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