Combate à corrupção com reforma política
Reconheço legítimas todas as manifestações, mas preciso discordar de que
elas não tiveram foco. Tiveram sim um foco golpista: o Impeachment de Dilma.
Impeachment é golpe por não termos razões objetivas e concretas de improbidade
contra a presidente. Impeachment é golpe por atentar a democracia em um de seus
pilares mais importantes: a vontade da maioria, através do voto. Eu acredito
que deveríamos combater corrupção como um dever cívico de todos os brasileiros
e combatê-la também através uma ampla e irrestrita reforma política. O sistema
político, infelizmente, está podre e colabora com a corrupção
institucionalizada que o país acaba de descobrir. A maldade ou a bondade não
estão personificados numa única pessoa ou num único partido.
Estamos perplexos pela maneira simplista e obsessiva com que alguns
tratam da questão do impeachment! Não discutem nem apresentam as consequências
de tal hipótese nem propõem nada de objetivo para combater a corrupção, como
por exemplo, uma ampla e abrangente reforma política.
Minha opinião: combate à corrupção se faz com uma
ampla reforma política e com dever cívico dos cidadãos (passando da passividade
para cidadania ativa). O dia em que a Justiça condenar e punir os corruptos com
rigor e a sociedade não tolerar mais nenhuma forma de corrupção, avançaremos no
seu combate. Eliminar a corrupção é muito difícil, pois desde sempre a
humanidade demonstrou-se vulnerável e corruptível!
Nei Alberto Pies, professor e
ativista de direitos humanos.
Governança e governabilidade no Brasil
Cid
Gomes, cearense e ex-ministro da educação nunca foi digno de minha admiração.
Desde que foi nomeado ministro, faltou-lhe clareza nos propósitos e domínio
sobre os grandes avanços do governo federal na educação. Em outras palavras,
não conseguiu dizer a que veio como ministro. A sua fala sincera no Congresso Nacional
no dia de ontem, dia 18 de março de 2015, no entanto, rende-lhe um elogio
público.
Gomes
disse o que muitos de nós pensam sobre uma grande parcela dos deputados e
senadores que compõem o Congresso Nacional: são grandes parasitas. Advogam
sempre em causas próprias, para manter regalias e interesses corporativos. Para
citar exemplos, recentemente os deputados aumentaram o valor das emendas
parlamentares e triplicaram o valor do Fundo Partidário em um contexto de crise
econômica e institucional. Ações injustificáveis em tempos que travamos no
Brasil um protagonismo cívico pelo fim da corrupção institucionalizada
descoberta pelas recentes investigações.
Ao externar sua posição sincera, Cid
Gomes aponta para um dos problemas da credibilidade anacrônica do parlamento.
Em tempos de crise, este não é um componente secundário, na medida em que,
didática e pedagogicamente, ajuda todos a compreender os mecanismos da relação
complexa e controversa que envolvem os poderes executivo e legislativo. Não se
trata de questionar a autonomia do parlamento, mas sim de explicitar as
relações interesseiras sobre quem deseja mandar neste país no atual momento
histórico.
O episódio demonstra
claramente que o PMDB já conseguiu impor, definitivamente, os rumos da
governança e da governabilidade neste país. Resta ao PT de Dilma optar pelo fim
da conciliação (o que não deve acontecer) ou administrar o país emprestando
seus créditos e descréditos ao PMDB.
O PMDB no Brasil, a partir
da abertura democrática, é o partido do poder, mesmo sem assumir o cargo da
presidência. Sempre associou-se a quem detinha o poder político, mas sempre
comportou-se "nas sombras". Agora explicita de vez seus objetivos e
demonstra publicamente, sem pudor, quais são seus interesses. Verdade seja dita
como ela é!
(Nei Alberto Pies,
professor e escritor)
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